Primor em calor humano

O friozinho e a chuva que ocorreram em todo o estado não pouparam Ribeirão Preto durante a abertura do III Congresso de Bioética de Ribeirão Preto (Cobirp), realizado entre os dias 7 e 9 de outubro. Porém, se as condições climáticas externas não foram as mais favoráveis, o evento primou pelo calor humano e pela profundidade das palestras, que tornaram-no um sucesso de conteúdo.

O nível do encontro se esmera a cada edição: organizado pelos conselheiros Isac Jorge Filho e Reinaldo Ayer de Oliveira, além de Marco Aurélio Guimarães, membro da Câmara Técnica Interdisciplinar de Bioética do Cremesp, o III Cobirp buscou promover debates e reflexões sobre temas presentes desde o nascimento até a morte. “Um médico será, certamente, melhor e mais útil à comunidade se tiver formação que inclua a visão Bioética”, avalia Isac Jorge.

Longe da panacéia
O primeiro destaque do Congresso foi a conferência de abertura “Células-tronco: estado atual dos conhecimentos e aplicações”, ministrada por Marco Antônio Zago, diretor clínico do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. De forma didática, afirmou que as terapias baseadas em células-tronco embrionárias são, sim, uma boa promessa da Ciência.

Porém, deixou claro que a tecnologia está muito (mas muito mesmo) distante de ser aplicada com sucesso em pacientes. Enfim, que não se constituem na panacéia – o remédio para todos os males – apregoada por alguns especialistas. “Há algumas coisas mais concretas com o uso de células-tronco adultas. O resto é muito insipiente”.

A conferência aconteceu logo após a abertura oficial realizada pelo presidente do Cremesp, Luiz Alberto Bacheschi, que afirmou que Ribeirão vem se consolidando como pólo difusor da Bioética. “Não tenho dúvida em afirmar o sucesso do evento”. Dividiram a mesa com Bacheschi, Zago e Isac Jorge Filho, Stênio José Correia de Miranda e Cleusa Cascaes Dias, respectivamente, o secretário municipal da Saúde e a presidente do Centro Médico de Ribeirão Preto e delegada do Cremesp da região.

Desejo da morte
Uma das mesas-redondas mais esperadas (e que não decepcionou!) voltou-se ao desejo de morrer de vários tipos de pacientes. O – delicado – assunto crianças, adolescentes e terminalidade foi defendido pelo pediatra Clóvis Constantino, conselheiro do Cremesp, segundo o qual desde pequenos os pacientes, em suas limitações, reconhecem o processo de morrer. “Há necessidade de equilíbrio e preparo dos médicos”.

Falaram também, entre outros, o geriatra Paulo Formighieri, que explicou que, diferentemente do jovem, o paciente idoso não teme a morte em si, “mas a finitude e o tipo de morte a ser enfrentada” e o infectologista Caio Rosenthal, conselheiro do Cremesp que, em sua palestra sobre Aids e morte, explicou: “O desejo acontece sob o impacto de uma notícia difícil, corresponde à reação inicial do paciente de Aids. Já a vontade vem do esgotamento, e vincula-se a fase terminal da vida”.

Também fizeram parte da programação outras palestras interessantes, como Bioética e Cidadania, por Christian de Paul Barchifontaine, do Centro Universitário São Camilo; Bioética e Meio Ambiente, por Isac Jorge Filho; e as mesas Conflitos e Dilemas em Reprodução Assistida, com Rui Ferriani e Geraldo Duarte, do Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto; e Privacidade e Sigilo Profissional, com Elma Zoboli, professora de Enfermagem da USP e José Sebastião dos Santos, e o médico da FMUSP/Ribeirão. 

O III Cobirp teve alguns diferenciais, como os curiosos espaços de discussão sobre dilemas bioéticos de difícil resolução, com perguntas encaminhadas anteriormente pela platéia, coordenados pelo conselheiro José Marques Filho e Marco Aurélio Guimarães; e a apresentação de resultados de trabalhos e teses, da qual participaram, entre outros, o conselheiro Antônio Pereira Filho e o delegado do Cremesp do ABC, Airton Gomes.

Entrevista Isac Jorge Filho

Poucos dias depois do término do III Congresso de Bioética de Ribeirão Preto (III Cobirp) seu – incansável – organizador, o conselheiro Isac Jorge Filho, já está animado para o próximo. Confira, a seguir, conversa exclusiva com o site do Centro de Bioética do Cremesp.

Centro de Bioética Em sua visão, quais foram os pontos altos da III edição do Congresso de Bioética de Ribeirão Preto?

Isac Jorge Filho Creio que o que mais chamou atenção foi a disposição das pessoas para a ampla participação e debates. Mais uma vez o Congresso de Ribeirão mostra que se caracteriza pelo fato de os conferencistas, relatores e plenária participarem em pé de igualdade, dando à Bioética o tom que precisa ter.
 
Cbio É possível afirmar que o conteúdo do encontro vêm se aprimorando a cada edição? Por que?

Isac Jorge Acho que sim. Neste ano, com a idéia de inscrições de dilemas bioéticos por parte dos interessados, ampliamos o temário que havia sido discutido previamente na Câmara Técnica Interdisciplinar de Bioética do Cremesp.
 
Cbio Podemos esperar o IV Cobirp? Alguma mudança em vista quanto à estrutura do encontro?
 
Isac Jorge Certamente teremos o IV Cobirp em 2011 em Ribeirão Preto. Temos algumas idéias quanto a estrutura, como a introdução de Temas Livres, mas ficamos aguardando sugestões de todos,  para que alcancemos um evento cada vez melhor.

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