26-09-2003

Mãe realiza eutanásia em filho tetraplégico

Depois de três anos de apelos pela eutanásia – que incluíram até o presidente Jacques Chirac – o francês Vincent Humbert, de 22 anos, teve seu desejo atendido, com a ajuda da própria mãe. Antes, conclamou: "não a julguem".

"O que ela fez para mim é certamente a mais bela prova de amor do mundo", ressaltou o rapaz, no último trecho de seu livro Je Vous Demande le Droit de Mourir (Peço-lhe o Direito de Morrer). Diga-se de passagem, lançado no dia seguinte à overdose de barbitúricos aplicada em sua veia pela mãe, Marie – confirmando a crença de que ambos haviam "programado" a data da morte.

Apesar de ter ficado surdo, cego e tetraplégico como conseqüência de um acidente em setembro de 2000, Vincent desenvolveu um "método" peculiar para escrever sua obra. Com a ajuda de fracas pressões do polegar – única parte do corpo capaz de "certo" movimento – contra a mão de um jornalista, Vincent passava, letra por letra, a sua mensagem.

Depois da injeção de barbitúricos, chegou a ser encaminhado à reanimação, mas os médicos do hospital de Berck-sur-mer decidiram descontinuar o empenho para mantê-lo vivo. "Dada à situação clínica, a evolução e os desejos expressados por Vincent por diversas vezes, a equipe decidiu limitar a terapia ativa", falou em comunicado Frederic Chaussoy, diretor da UTI local.

Morto vivo
Conforme diz em seu livro, a vida do bombeiro Vincent "parou" no dia 24 de setembro de 2000, numa estrada da Normandia, quando o carro que dirigia foi atingido por um caminhão. Após nove meses em coma, acabou acordando, tornando-se "um morto vivo", como consideraria. "Recuperei minha cabeça, mas ela é tudo o que consegui recuperar".

Como tentativa desesperada, chegou a escrever uma carta clamando ao presidente da França, Jacques Chirac, que permitisse a eutanásia. Emocionado (ele próprio tem uma filha severamente deficiente) Chirac respondeu à carta, reconhecendo: "Seus sofrimentos terríveis me comoveram profundamente. Seu apelo é emocionante. Mas não posso lhe conceder o que você pede, pois o presidente da República não tem esse direito".

Apesar do clamor nacional criado em torno do caso do jovem Vincent, nada indica que a lei francesa – que proíbe eutanásia – será flexibilizada. O primeiro ministro Jean-Pierre Raffarin já adiantou: "A vida não pertence aos políticos".

Até o momento, a única providência favorável à família Humbert partiu do ministro da Justiça Dominique Perben, que pediu à promotoria que aplicasse a lei com a maior humanidade, para levar em consideração "o sofrimento da mãe do jovem".

Apesar de sofrida, a família Humbert está mais tranqüila, como assegurou Laurent, irmão de Vincent, a LCI Television: "Nós tivemos o que nós queríamos. Ele teve o que ele queria. Estou feliz que o meu irmão, agora, esteja livre. Trata-se de um enorme alívio".

Fontes: Le Figaro; Folha de São Paulo e Folha on-line

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