Eles dão exemplo.
Reportagem trazida pela rede BBC focaliza a história de dois homens na faixa dos 40 anos, que se encontraram em meio a uma grande tragédia. Seria algo até corriqueiro, se um deles não fosse judeu, o outro muçulmano fervoroso.
Ambos belgas, estavam no aeroporto de Zaventem, em Bruxelas, quando um atentado assumido pelo grupo Estado Islâmico explodiu uma bomba ao lado da fila de embarque, na qual esperava tranquilo o empresário judeu Walter Benjamin. “Houve um barulho e uma luz muito forte. Fui projetado pela bomba e cai sentado. Vi minha perna do lado, arrancada, e meu sangue jorrando. O homem que ficou atrás de mim na fila estava ao meu lado, morto. Ele tinha perdido a cabeça. Todos ao meu redor estavam mortos”.
Afastado da fila, o técnico de máquinas muçulmano Hassan Elouafi, observou, assustado, uma “bola de fogo” acompanhada de “um barulho gigantesco”. Em vez de correr, como fez a maioria dos sobreviventes, ele, pai de quatro filhos, voltou para a direção da bomba assim que a poeira baixou: tinha visto um homem no meio de tantos, sozinho, que gritava de dor – e já estava perdendo as forças. Era Benjamin. “Dei a volta para ir até lá consolá-lo. Não podia deixa-lo sozinho”, disse Elouafi que, poderia, inclusive, ser visto como participante do atentado.
Mas ele não só ficou ao lado, como emprestou o telefone para que Benjamin ligasse à mãe, para se despedir. Esperou umlongo tempo até o socorro chegar, ajudou o militar a fazer um torniquete na coxa do ferido e a leva-lo até a ambulância.
Trauma e gratidão
Dias depois, ainda traumatizado, Elouafi decidiu pegar o telefone gravado no celular e ligar à mãe de Benjamin, temendo pela sorte do colega. “Quando ela me falou que estava vivo e que estava me procurando, comecei a chorar. Foi um alívio. Não tinha parado de pensar nele. Fui direto ao hospital em que estava internado”.
Para Benjamin –que transformou sua tragédia pessoal em ideia de preparar um livro sobre os atentados, e planejar dar conferências nas escolas quando voltar a andar – os dois agora formam uma “nova família recomposta”, apesar das diferenças. “Nos falamos quase todos os dias, Elouafi me visita e traz pratos feitos pela esposa dele. Age como um irmão”.
Diz acreditar que a amizade entre um judeu e um muçulmano, surgida de um atentado terrorista, “é um símbolo forte, que permite enviar uma mensagem importante a todos os que tenta estigmatizar toda uma comunidade”.
Defende, enfim, que “99,9% dos muçulmanos são formidáveis e não merecem ser culpados pelo que fazem 20 ou 30 idiotas”.
Fonte: BBC Brasil
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