Agora são os bebês geneticamente “programados”. Antes, foram as propostas de transplante de cabeça e o surgimento dos primeiros primatas clonados do mundo, entre outras notícias constrangedoras no campo ético.
O biofísico He Jiankui – até então considerado como cientista sério, que aprimorou sua educação com bolsa nos EUA, inclusive, com pós-doutorado em Stanford – assombrou o mundo, em 26 de novembro, ao anunciar que alterou geneticamente genes das gêmeas identificadas como Nana e Lulu, nascidas em novembro.
Durante a apresentação do seu experimento aos pares e à imprensa, em conferência lotada em Shenzhen, China (desde a qual, aliás, He se encontra com paradeiro desconhecido, gerando a especulação de que esteja detido), o pesquisador afirmou que alterou os embriões de sete casais, para tentar dar uma característica que poucas pessoas têm naturalmente: a capacidade de resistir a “uma possível infecção futura pelo HIV”, visto que seus pais são portadores dos vírus.
Ao contrário do que se apregoa em Ciência, a experiência de He Jiankui não foi divulgada em publicação científica: os detalhes foram inicialmente trazidos em veículos não convencionais, como Youtube e entrevistas exclusivas à Associated Press, nos quais o estudioso afirmou sentir “uma forte responsabilidade de não apenas fazer uma primeira pesquisa, mas torna-la um exemplo”.
Para ele, seria a sociedade quem “deveria decidir o que fazer a seguir”.
Pega de surpresa
Como a maioria dos envolvidos e outros mortais, representantes da Universidade de Ciência e Tecnologia de Shenzen, na qual He realiza seus experimentos, afirmaram que a instituição “não foi comunicada das pretensões da pesquisa” e que, por isso, seria aberta uma investigação. Tal desconhecimento foi confirmado pelo próprio He durante a conferência internacional, quando afirmou que seus avanços foram financiados pelo “próprio bolso”.
No meio científico sabe-se que muitos cientistas na China dizem que o empenho para ter sucesso é tão forte que o lema adotado é “faça primeiro, debata depois”. Ainda assim até seus compatriotas demonstraram-se bastante descontentes: 100 colegas daquele país denunciaram a pesquisa, considerando que foi “longe demais” na inconsequência.
Wang Yifang, especialista em ética médica na Escola de Ciências Médicas da Universidade de Pequim, chegou a questionar: “ele estudou nos EUA, por que fez isso apenas na China?”. Para ele, tal possibilidade foi estimulada pela lacuna na supervisão ética local, “que não é muito rigorosa, sendo que alguns a consideram até dispensável”.
Outro professor de renome da mesma univesidade, Wang Yue, também confirmou que muitos cientistas locais não têm consciência da ética médica e das leis e regulamentos relevantes para seus campos – e não se demonstram dispostos a ouvir o mundo exterior, incluindo, os comitês de ética. “Muitos são ousados e pensam na Ciência como seu reino independente”.
Além do total descaso ético – leia-se, a imprevisibilidade sobre as consequências futuras para os bebês e seus descendentes –, a utilidade da pesquisa também foi questionada, já que outros métodos consagrados (como a lavagem de esperma) já se encontram disponíveis para evitar transmissão do vírus da AIDS em reprodução assistida.
Apesar de todo o barulho do anúncio, há também dúvidas sobre o “sucesso” da empreitada. Alguns pesquisadores que revisaram os materiais dizem não ser possível afirmar que os genes foram realmente editados.
Entre as consequências mais importantes do imbróglio esteve a intenção anunciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de criar painel científico para refletir sobre como evitar que experiências como esta sejam levadas à frente, e sugerir punições.
Como disse Wang Yuedan, professor de imunologia da Universidade de Pequim, “o que aconteceu desta vez foi um desastre de ética para o mundo, mas talvez encoraje cientistas de pesquisa biomédica, inclusive, os da China, a prestarem mais atenção às diretrizes éticas em relação ao corpo humano”.
Fontes: New York Times; O Globo; e Veja
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