25-05-2002

Simpósio sobre Clonagem

Clonagem Terapêutica Humana foi o tema abordado no dia 25 de maio de 2002, durante simpósio organizado pela Câmara Técnica em Bioética, em parceria com o Centro de Bioética do Cremesp. Coordenada pelo conselheiro Enídio Ilário, a discussão partiu da pergunta Iremos ver o clone humano, a cópia genética da pessoa? e contou ainda com a participação de Maria Cristina Massarolo, professora da Escola de Enfermagem da Usp; Marcos de Almeida, professor de Bioética da Unifesp/EPM e Thomaz Rafael Gollop, livre-docente em genética médica da USP.

Veja um breve resumo das falas dos debatedores:

"Não há justificativa para a clonagem reprodutiva", afirma Massarolo
Na visão de Almeida, a Natureza é o grande agente clonador
Dificuldades em lidar com o novo e com as diferenças, segundo Gollop



"Não há justificativa para a clonagem reprodutiva", afirma Massarolo

Maria Cristina Massarolo ressaltou "a importância de a sociedade refletir sobre o assunto e discutir um tema tão polêmico, que tem gerado muitos desdobramentos, impasses e dilemas, colocando não só os profissionais de saúde, mas a população em geral, em uma perplexidade muito grande; A clonagem é um dos grandes temas de questionamento ético atualmente".

A professora confessou sua preocupação quanto à clonagem humana reprodutiva: "temos que nos questionar como enfrentaríamos os problemas que ela pode causar. Quantos fetos mal formados, quantas tentativas frustradas antes de chegar ao sucesso? Se pensarmos na ovelha Dolly, temos que nos lembrar quantas tentativas foram feitas e quantos monstrinhos, por assim dizer, nasceram antes de Dolly".

Quanto à clonagem terapêutica, Maria Cristina falou sobre a importância das pesquisas nessa área. "Precisamos de muito desenvolvimento e muito investimento na clonagem terapêutica e ela poderá trazer muitos benefícios. Devemos intensificar esta discussão", argumentou.

Comparando os dois tipos de clonagem, a professora completou: "não vejo justificativa para a clonagem reprodutiva e sim para a terapêutica. Acredito que, tecnicamente, a clonagem reprodutiva seja possível, mas temos que questionar se eticamente é desejável"

Na visão de Almeida, a Natureza é o grande agente clonador

A polêmica relacionada à definição do início da vida do embrião como ser humano foi discutida pelo professor de Bioética da Unifesp/EPM, Marcos de Almeida. Na sua opinião "a clonagem é a pá de cal definitiva no argumento das pessoas que asseguram que o momento do começo da vida é a fecundação, uma vez que, neste caso, não há espermatozóide e não há fecundação. Dessa forma, o homem vai se tornando dispensável na produção de outro homem".

O professor explicou a distinção entre clonagem embrionária e a realizada a partir de DNA adulto, e sobre os propósitos - reprodutivos e terapêuticos - na definição do que seja um clone.

O clone nada mais é do que um gêmeo univitelino. Segundo Marcos de Almeida, "é impossível achar que ele será uma cópia carbono, pois as condições são diferentes, a gestação é outra e o contexto sócio-ambiental é inteiramente diverso".

Marcos de Almeida concluiu dizendo que a vida só passa a ter significado quando adere-se a ela alguma coisa, capaz de conferir-lhe a importância que ela tem. "Vida sozinha, para mim, é apenas um pré-requisito. No meu entender, a pergunta que deve ser feita é quando a vida de um novo ser humano começa, de fato, a ter importância moral?".


Há dificuldades em lidar com o novo e com as diferenças, segundo Gollop

Thomaz Rafael Gollop recordou-se da decisão tomada em reunião ocorrida em 1987, promovida pela ONU, sobre clonagem: "concluímos, eu e os integrantes de outros 187 países, que deveríamos fazer uma moratória, ou seja, adiarmos permissões e proibições até que possamos ter as dimensões do seus riscos".

Em relação à clonagem terapêutica, Thomaz Gollop lembrou também outro evento do qual participou: "um grupo de mães de crianças portadoras de doenças genéticas - com determinadas atrofias musculares e doenças degenerativas para as quais nós não temos nenhuma perspectiva de tratamento - levantou-se no final da reunião, dizendo 'se a clonagem trouxer uma luz terapêutica para os nossos filhos, nós estaremos enxergando a única forma válida de ajudá-los'. Esse foi um apelo extremamente interessante, que mexeu com a cabeça das pessoas que estavam presentes."

A respeito da questão religiosa que envolve a clonagem, o professor analisou as prováveis diferenças na aceitação da clonagem reprodutiva e da clonagem terapêutica. "A questão da clonagem reprodutiva se complica no campo religioso, a partir do conceito de que a vida se inicia com a reprodução sexuada dos seres humanos. Uma reprodução assexuada vai contra o dogma da Igreja. A clonagem terapêutica, certamente, servirá para tratar doenças e virá, sem margem de dúvidas" disse.

Na opinião dele, irá se consolidar como benefício médico, moral e ético para os seres humanos. "As religiões aceitarão a clonagem com a mesma resistência que aceitam reprodução assistida ou planejamento familiar".


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