VI Cobirp

Evento já tradicional na região, o VI Congresso de Ribeirão Preto promoveu, entre 27 e 29 de novembro, palestras e debates com temas instigantes, que foram desde o atendimento a doenças emergentes, como Chikungunya e Ebola, à mesa-redonda sobre os aspectos éticos em transplantes de órgãos. Organizado por Isac Jorge Filho, delegado do Cremesp de Ribeirão, esta edição do Congresso agregou também o III Fórum de História da Medicina do Centro Médico de Ribeirão Preto e o VIII Simpósio do Núcleo Hospitalar de Epidemiologia HCFMRP-USP.

A programação contou com abertura realizada no Centro Médico de Ribeirão pelo presidente do Cremesp, João Ladislau Rosa, que iniciou a sua fala expressando preocupação quanto à imagem do médico. “Somos ‘muito respeitados’ por 80% da população, como apontam as pesquisas. Mas é bem importante que resgatemos nossa imagem em meio a toda a sociedade”, ressaltou, lamentando que isso possa ser atrapalhado por infrações éticas e criminais, como a noticiada pela imprensa em que uma equipe médica mandou fazer dedos de silicone para marcar o ponto em seu local de trabalho. Ou seja, recebia sem trabalhar. “O médico, de forma alguma, precisa fazer isso para sobreviver”.

Em seguida, demonstrou o empenho do Conselho no julgamento de processos éticos, em que muitos colegas foram considerados “culpados”. Ao conviver com a realidade da Casa, diz, o denunciante supera a falsa noção de corporativismo médico. “Mesmo quando os denunciados são absolvidos o denunciante acaba agradecendo pela retidão do Conselho”.

Em seguida o conselheiro federal Lúcio Flávio Gonzaga Silva proferiu a conferência Reflexões sobre a situação da Saúde no Brasil, logo de início, opinando: “O problema não é a falta de médicos no Brasil, e, sim, de condições para o trabalho (...) Onde há condições de trabalho não faltam médicos”. Silva trouxe dados de pesquisa recente encomendada pelo CFM, que demonstra que, há sete anos, a primeira preocupação que vem à mente do brasileiro é a Saúde – à frente de temas como o desemprego e criminalidade.

No Hospital das Clínicas
Com auditório lotado, foi dada sequencia a programação do VI Cobirp, na unidade de Emergência do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.

Kleber Giovanni Luz, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, trouxe dados alarmantes sobre a disseminação da febre Chikungunya (doença viral parecida com a dengue), que tem se espalhado por algumas cidades do país, especialmente em Vitória da Conquista, Bahia, aonde chegou por meio de “exportação” de caso da África.

Participaram ainda da mesa Rachel Esteves Soeiro, da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) médica da Universidade Estadual de Campinas que passou um mês na linha de frente do combate ao vírus Ebola na Guiné. Com imagens preocupantes, a médica opinou que a epidemia está longe de ser controlada nos países de grande surto: Libéria, Serra Leoa e Guiné. Entre as dificuldades para conter os surtos figuram as de origem cultural: famílias não abrem mão de enterrar o corpo do ente querido morto por ebola no quintal da casa, favorecendo a disseminação da infecção, e, muitas vezes, se recusam a receber e/ou ouvir as equipes de saúde, “por acharem que nós, na verdade, estamos ‘levando’ a doença às suas casas”.

Loucura, Médico Cidadão e Transplantes
De volta ao Centro Médico de Ribeirão, o período da tarde do evento trouxe temas interessantes, como palestra em História da Medicina ministrada pelo psicólogo e escritor Isaias Pessotti, da FMRP/USP que trouxe muitas curiosidades sobre o tratamento da Loucura no século XIX. Entre os métodos utilizados figuram desde uma espécie de pêndulo em que o doente mental era girado, em uma cadeira, nos sentidos vertical e horizontal (com o objetivo de criar uma espécie de “transe” para que o “cérebro voltasse a funcionar normalmente”) e a inserção de um fio na região lombar do paciente, promovendo infecção. Intenção: que o doente mental, através da dor, voltasse a ter “contato” com o próprio corpo e realidade.

A Formação do Cidadão na área da Saúde foi o tema defendido pelo delegado Isac Jorge Filho, que considera mais importante formar, em medicina, cidadãos com alguns conhecimentos técnicos na área, do que pessoas não cidadãs com ampla dimensão técnica. “No início do curso sempre tenho curiosidade em questionar meus alunos, em geral, filhos de médicos, sobre os motivos que os levaram a seguir a carreira. Fico triste quando confirmo que a maioria das respostas tem a ver com ‘ganhar dinheiro’”.

Segundo ele, hoje, a “desgraça” no atendimento em Saúde começa com três “P”: Políticos; População e Profissionais.

O módulo foi encerrado por uma mesa sobre Transplantes, das quais participaram o conselheiro do Cremesp Reinaldo Ayer de Oliveira, coordenador do Centro Bioética do Cremesp, falando sobre morte encefálica. Sobre os Conflitos Éticos Envolvendo o Doador, falou Maria Cristina Massarollo, da Faculdade de Enfermagem da USP; e em relação a Transplantes Intervivos: os conflitos éticos, José Sebastião Santos, da FMRP.

Dentro desse assunto, podem-se identificar conflitos éticos de várias naturezas que incluem, por exemplo, a negativa de doação de órgão pela família, apesar da manifestação do doador, em vida; até que ponto a decisão do doador vivo pode ser considerada “autônoma”; possibilidade da venda de órgãos; e a não aderência a medicamentos anti-rejeição por parte de adolescentes: desqualifica o receptor para novos transplantes?

O médico pode atender parentes? 
Uma das mesas que provocou controvérsias durante o Cobirp referiu-se à possibilidade –e a adequação– de o médico atender seus próprios familiares.

A polêmica vem do fato de que, no Brasil, não existe legislação ética sobre o assunto, conforme apontou o conselheiro Antônio Pereira Filho, responsável pela Câmara Técnica Interdisciplinar de Bioética do Cremesp.

Sobre o mesmo tema, falou Reinaldo Ayer de Oliveira, que compartilhou as experiências verificadas em um grande hospital privado e, ainda, em relação a casos relatados em literatura científica internacional. Ambas as conclusões apontaram para a mesma direção: o médico NÃO DEVE ser assistente de familiares, em especial, os mais próximos.

Na pauta, houve ainda apresentações sobre a Saúde do Médico; Percepção dos Jornalistas sobre Humanização da Saúde; Interiorização do Ensino Médico; e Disponibilidade e Escassez de Água – relativo ao enfoque “Bioética e Meio Ambiente”. 


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