18-05-2005

Elma Zoboli

The clinician-investigator: unavoidable but manageable tension (O clínico-pesquisador: tensão inevitável, mas manejável)

Autores: H. Brody; FG Miller

Revista: Kennedy Institute of Ethics Journal 2003, 13: p. 329-346

Abstract:

The "difference position" holds that clinical research and therapeutic medical practice are sufficiently distinct activities to require different ethical rules and principles. The "similarity position" holds instead that clinical investigators ought to be bound by the same fundamental principles that govern therapeutic medicine-specifically, a duty to provide the optimal therapeutic benefit to each patient or subject. Some defenders of the similarity position defend it because of the overlap between the role of attending physician and the role of investigator in a research trial. This overlap is maximal when the same physician occupies both roles with respect to a particular patient-subject. We address the ethical tensions inherent in that role conflict and argue that the tensions are real but manageable. The difference position provides a sound ethical framework within which to manage those tensions, while the similarity position is unsatisfactory because it seeks to deny the existence of the tensions.

(Comentado por: Elma Lourdes Campos Pavone Zoboli, Professora do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da USP

Resumo/comentário:

Tomando a oncologia como exemplo, os autores defendem que a pesquisa e a clínica são atividades distintas, com objetivos diferentes. Argumentam que a pesquisa visa produzir conhecimento médico generalizável para beneficiar futuros pacientes, enquanto a clínica objetiva produzir um benefício terapêutico para os pacientes individualmente. Desta maneira, para eles, “éticas distintas” norteariam estas práticas, já que na pesquisa o dever do investigador resume-se a não explorar o sujeito de pesquisa, não incluindo o dever de maximizar os benefícios terapêuticos que cada sujeito recebe.

Esta defesa dos autores traz, em si, um risco: torna possível, de maneira falaciosa, justificar o uso de placebo mesmo quando exista um tratamento eficaz e correntemente usado para alguma patologia. Isto porque, não sendo mais dever ético do médico-pesquisador a busca do benefício dos pacientes individualmente, não há mais a obrigatoriedade de se preocupar em observar a eqüipolência clínica, ou seja, seu compromisso ético não é mais com o paciente-sujeito concreto que está na sua frente, mas com “pacientes futuros”, “em potencial” que “algum dia” poderão se beneficiar dos resultados da pesquisa. Esta manobra utilitarista, que justifica causar prejuízos ou danos a algumas pessoas em nome do benefício de um maior número que é obtido estendendo-se ao infinito os possíveis beneficiários dos resultados de uma pesquisa, esquece que antes de ser investigador o médico é o profissional a quem o paciente procura para curar seus males, amenizar seu sofrimentos; ele não busca um pesquisador porque altruisticamente quer deixar de receber o melhor tratamento possível para poder ajudar a humanidade.

Os autores afirmam que o médico-pesquisador deve se esforçar muito para educar o paciente quanto às diferenças dos contextos clínico e de pesquisa. Tratar os sujeitos de pesquisa desta forma é torná-los meros meios para o desenvolvimento da ciência, é desconsiderar sua dignidade humana, equiparando-a ao livre arbítrio. Parece que pelo fato de ser devidamente explicada ao paciente-sujeito a diferença entre cuidados clínicos e pesquisa clínica, o médico está autorizado a não mais buscar o benefício do paciente, ou seja, porque nada lhe é escondido, tudo está justificado.

Tomar a ética da pesquisa como algo à parte, distinto da ética da prática clínica, parece abrir caminho para minar a medicina como resposta humana e ética ao sofrimento humano, transformando-a em um simples instrumento a serviço da ciência. Nos seus primórdios, por razões óbvias, a medicina tinha como finalidade primeira o diagnóstico ou tratamento dos pacientes e não o acúmulo de conhecimento científico, assim, a investigação clínica ocorria de maneira fortuita, casual ou acidental. Será que assistimos à guinada em direção ao extremo oposto, no qual a finalidade primeira da medicina será a de desenvolver conhecimentos científicos e o benefício do paciente algo que ocorrerá de maneira fortuita, casual ou acidental?)

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